Colunista do Muitos Somos Raros, Rosa Mitre aborda o tema
Rosa Mitre, colunista do Muitos Somos Raros
O desafio é fazer uma breve apresentação inicial do que é terapia ocupacional e como ela pode auxiliar as pessoas que vivem e convivem com doenças raras. Certamente virão outras colunas, falando sobre temas específicos, mas nesta primeira a ideia é apresentar esta área.
A terapia ocupacional é uma profissão específica, de nível superior que só pode ser exercida por terapeutas ocupacionais. Digo isto, pois por vezes pensam se tratar de área de especialização de alguma outra profissão. Por isto o primeiro cuidado, procurar profissionais realmente habilitados na área – os terapeutas ocupacionais!
Podemos encontrar terapeutas ocupacionais trabalhando em diferentes contextos – nas áreas de saúde, educação e social. Na saúde, trabalhamos com promoção de saúde, prevenção, tratamento, reabilitação e cuidados paliativos. Nossa clientela são pessoas que tenham em algum momento, ou durante a vida toda, alguma dificuldade de ordem motora, cognitiva, sensorial, funcional ou psíquica que afetem seu cotidiano e comprometam sua autonomia e qualidade de vida. Tanto pode ser o bebê que tem seu desenvolvimento atrasado quanto a criança que devido à evolução de uma doença vai perdendo habilidades; o jovem que precisa de uma cadeira de rodas para se locomover ou o adulto que quer maior autonomia para realizar seu autocuidado; ou ainda, o idoso que apresenta sinais de senilidade. Ou seja, trabalhamos com todas as etapas da vida, dentro da necessidade de cada uma.
Para isto, lançamos mão de várias técnicas, claro, mas principalmente das atividades que fazem parte de nosso dia a dia, seja em casa, no lazer, no estudo, no trabalho ou na convivência social.
Coisas que parecem simples e automáticas, mas que quando nos descobrimos com dificuldades em realizar, percebemos a complexidade que envolvem e a importância que têm. Isto implica desde a exploração de um brinquedo por um bebê à capacidade de realizarmos tarefas intelectuais de alto desempenho; de tomarmos banho sozinhos a escolhermos nossa roupa e sermos capazes de vesti-la; de comunicarmos o que estamos sentindo (mesmo que não consigamos falar) a nos deslocarmos com mais conforto e independência quando andar não é uma possibilidade; de frequentarmos uma escola com outros jovens a desempenharmos uma função profissional, mesmo que algumas adaptações precisem ser feitas para isto.
Enfim, o terapeuta ocupacional é aquele profissional que vai conjugar técnica com criatividade para auxiliar a pessoa e sua família a viverem com condições por vezes inesperadas. A ideia não é destacar as dificuldades, sequelas ou deficiências, mas valorizar e desenvolver habilidades e possibilidades. Isto envolve diferentes maneiras de apresentar o mundo ao bebê e estimulá-lo, modos mais confortáveis de realizar o deslocamento no espaço, pequenos apetrechos (que chamamos de dispositivos e adaptações) para tornar a realização das atividades diárias mais fáceis e independentes, modos alternativos de comunicação e muito mais.
Espero sinceramente que tenhamos oportunidade de falar das diversas possibilidades de atuação da terapia ocupacional para as pessoas com doenças raras, mas acima de tudo, desejo que cada um possa ter um terapeuta ocupacional para chamar de seu.
Rosa Mitre, terapeuta ocupacional, mestre e doutora em ciências, coordenadora do Saúde e Brincar – programa de atenção à criança hospitalizada e Pesquisadora do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira – IFF/Fiocruz.