Após cogitar eutanásia, Letícia Franco conta sobre a evolução na luta contra a doença autoimune
Por Beatriz Simonelli
Mais de trinta e quatro internações, dores insuportáveis, cirurgias, altas doses de corticoides, diversos efeitos colaterais e a rotina cansativa de UTI levaram a oftalmologista Leticia Franco decidir realizar a eutanásia em março desse ano. Desde 2008 na batalha contra uma rara síndrome autoimune chamada ASIA, a médica publicou a decisão em seu facebook e foi assim que sua história ganhou destaque na mídia.
“A ideia da eutanásia surgiu pelo medo, pela dor constante e por ninguém acreditar em mim. Eu conversei com meus familiares, no primeiro instante eles aceitaram, ‘não vamos deixar nossa filha sofrer como está sofrendo”, contou Letícia em entrevista para o portal cuiabano Livre.
O cenário, no entanto, mudou após ela ter acesso a um tratamento alternativo utilizando a terapia de ozônio. Apesar de não curar a doença autoimune, que estima a expectativa dos pacientes em no máximo nove anos, o método utiliza o ozônio com o objetivo de aumentar a quantidade de oxigênio no corpo, o que melhorou – e muito – a qualidade vida e bem-estar de Letícia.
Através da mídia sua trajetória ganhou notoriedade e chegou até uma médica de São Paulo, Maria Emília Gadelha Serra, que a ofereceu a ozonioterapia como uma medida complementar. Desde então, Letícia pode, finalmente, voltar a pensar em um futuro sem sofrimento.
Porém, sua história de luta contra a ASIA traz um caminho bastante conturbado e de muitas batalhas.
Síndrome ASIA
A ASIA é uma síndrome autoimune/inflamatória causada pela indução de adjuvantes, ou seja, elementos que podem estimular os anticorpos de pacientes geneticamente propensos a terem doenças autoimunes a atacar o próprio organismo.
Atualmente, entre as substâncias estranhas ao corpo humano identificadas com efeito adjuvante estão os implantes de silicone e alguns tipos de vacina, como o escaleno, óleo obtido de tecido de tubarão e um dos principais adjuvantes das vacinas anti-influenza disponíveis no país. Quando em contato com as células humanas, esses adjuvantes podem provocar uma reação anormal do sistema imunológico, levando as células de defesa a agirem contra o próprio corpo.
O silicone, o alumínio e a Síndrome ASIA
Após passar por uma cirurgia de implante de silicone foi que Letícia desenvolveu a doença rara. Porém, de acordo com a médica, existe um exame de DNA que mostra o HLADR53 e o HLADR52, moléculas existentes nas células que sugerem a probabilidade da pessoa ter pré-disposição de desenvolver doenças autoimunes, entre elas a Síndrome ASIA. Através desse exame, poderia se apontar, por exemplo, se a pessoa é indicada a colocar uma prótese de silicone ou não.
Antes de receber a terapia de ozônio, ela chegou a entrar em contato com o único especialista na Síndrome ASIA, o médico israelense Yehuda Shoenfeld. Letícia o informou que gostaria de doar seu corpo para um estudo a respeito do tratamento e possível cura para a doença. No entanto, o imunologista desistiu de continuar com a pesquisa.
“Ele não falou com as próprias palavras, mas deu a entender que a indústria do silicone é muito grande, forte e bilionária e a própria indústria conseguiu bloquear a pesquisa”, conta.
Outro adjuvante presente nos poucos pacientes com a síndrome é a contaminação por alumínio, que pode acontecer pelo uso de algumas maquiagens, shampoos, desodorantes, tintura de cabelo e obturações dentárias. Porém, só desenvolve a ASIA quem tiver a predisposição genética, que também poderia ser descoberta pelo exame de DNA.
“Os cirurgiões plásticos não falam sobre isso porque eles querem apenas vender. Tanto que foi descoberta a doença do silicone. Eu recebi uma carta de um grupo de pessoas que tem essa doença – e muitas mulheres se matam porque não aguentam as dores”, afirmou a médica.
A dificuldade de acesso ao tratamento
O gasto de Letícia com saúde já passava de sete mil reais mensais que iam para os medicamentos, as inúmeras internações e o controle da ostepoerose grave, gerada pelo uso de corticoides, quando ela e sua família criaram uma vaquinha online para arrecadar doações com o objetivo de conseguir seguir com o tratamento e buscar melhor qualidade de vida.
Quando a Dra. Maria Emília Gadelha entrou em contato e ofereceu a alternativa da ozonioterapia, Letícia abriu o jogo com a médica a respeito dos custos, já que o método sairia muito caro e ela já estava afastada do trabalho há cinco anos e sem conseguir nenhuma renda, por causa da doença. Todo dinheiro que tinha em poupança foi gasto com médicos e tentativas de tratamento.
“Eu abri o jogo com ela e falei: ‘Doutora, eu agradeço muito, mas infelizmente eu não tenho dinheiro’. E ela falou: ‘Eu vi seu caso, eu li sobre você, eu quero te dar o tratamento”, diz.
Um recomeço
Pouco tempo após iniciar a terapia de ozônio a melhora na qualidade de vida já era enorme. Rapidamente ela deixou de tomar morfina e a maioria dos remédios que usava para o alívio da dor. E apesar da ozonioterapia não curar a doença, deu a Letícia o que ela mais precisava: esperança e qualidade de vida.
“Ninguém nunca me prometeu mais dias ou anos de vida com o ozônio, mas me prometeram qualidade de vida – prometeram que podiam tentar. E realmente a ozonioterapia traz qualidade de vida. O ozônio tira a inflamação e diminui as dores. Fiquei menos dependente dos remédios, não tomo mais nada via oral para dor e consigo fazer atividade física. Hoje eu me divirto, passeio e não tem mais enfermeiras na minha casa. A vida está começando a voltar a ser como era”, finaliza.
Como ajudar
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