Rubor facial levou empresária a procurar médico; por ano, 2 pacientes em cada 100 mil pessoas descobrem a doença
Novembro é o mês de conscientização sobre os Tumores Neuroendócrinos (TNEs), conhecidos também como TNEs e se enquadram dentro da categoria de câncer raro. Por que a doença tem esse nome? Justamente porque se desenvolve nas células do sistema neuroendócrino, responsável pela produção de hormônios em várias partes do nosso corpo que atuam na regulação das atividades de diversos órgãos.
Estes tumores causam uma produção de hormônios de maneira descontrolada. Quando as células neuroendócrinas sofrem alterações e crescem sem controle existe o risco de surgimento de um TNE. 1 Por ano, são cerca de 2,4 pacientes diagnosticados a cada 100 mil³. A maioria dos pacientes tem idade entre 50-60 anos4.
Tais tumores são malignos, de lento crescimento e podem surgir em qualquer parte do organismo. A oncologista clínica Dra. Renata D’Alpino, do Centro Paulista de Oncologia e diretora científica do Grupo Brasileiro de Tumores Gastrointestinais, explica que os mais comuns ocorrem no sistema gastrointestinal, principalmente no intestino delgado, pâncreas e pulmões.
Por ser considerado um tumor raro e com sintomas que podem ser facilmente confundidos com outros problemas de saúde, o diagnóstico não é fácil. O paciente passa por médicos diferentes e pode levar até 7 anos para a descoberta do TNE, segundo dados da International Neuroendocrine Cancer Alliance (INCA). 2
A incidência no Brasil não é muito bem conhecida porque o sistema de classificação não considera o tipo de tumor, mas onde ele originou, segundo a oncologista. “Por exemplo, o TNE de pâncreas, que corresponde de 5% a 10% de todos os cânceres dele, quando se classifica fica dentro de tumor de pâncreas”, exemplifica a médica.
O diagnóstico tem melhorado, explica a oncologista. “Tem sido feito cada vez mais diagnóstico porque temos melhores exames de imagem. Além disso, os patologistas têm um conhecimento a mais sobre TNE e por isso, muitas vezes, acabam chegando a esse diagnóstico mais fácil do que no passado. Porém, em alguns lugares distantes de grandes centros urbanos o diagnóstico pode não ser feito em tempo hábil e o paciente pode demorar entre cinco a dez anos para descobrir o TNE. Mas isso em caso da doença indolente, porque se for agressivo o paciente terá sintomas antes disso”, explica Dra Renata.
Entre os sinais mais comuns estão diarreia crônica, dor abdominal, rubor facial, hipoglicemia, dor de estômago e úlceras gástricas. 1
A empresária Tatiana Teixeira Paes, de 38 anos, lembra dos primeiros sinais do TNE. Por oito meses, ela apresentava rubor no rosto e pescoço, que durava menos de 1 minuto. Os amigos também notaram e perguntavam o que ela tinha. Tatiana procurou um clínico geral, fez alguns exames, mas nada foi diagnosticado. “Uns 3 meses após esses exames, minha mãe teve que retornar à oncologista para tomografia de rotina. E quando eu estava acompanhando a consulta, a médica elencou os três sintomas mais comuns de síndrome carcinoide. Imediatamente eu disse que também tinha um dos sintomas, mas até ela não acreditou no início. Como insisti, ela solicitou o primeiro exame para diagnóstico, um exame de urina 24 horas”, conta Tatiana.
O resultado do exame foi bem acima da escala de normalidade e a partir dele, Tatiana passou por tomografia, cintilografia e biopsia do fígado para fechar diagnóstico de TNE no intestino delgado, com metástase hepática, ao fim de 30 dias, em julho de 2018.
Tatiana passou por cirurgia, quimioembolização hepática e desde outubro de 2020 faz tratamento com comprimido e toma injeção a cada 28 dias.Os exames de controle são feitos rigorosamente, conta ela.
“Diagnóstico precoce é fundamental para o bom resultado do tratamento. Conhecer nosso corpo e investigar quando algo diferente acontece são partes relevantes do processo. Não podemos postergar a ida aos médicos e realização de exames”, diz a paciente.
“A doença faz parte da minha vida, mas não dita os meus dias! Ela tem que se encaixar na minha rotina, nos meus sonhos e no meu futuro! Cada dia agradeço a Deus pela oportunidade de aproveitar a vida! O medo pode até aparecer no meu percurso, não nego, mas ele não me paralisa e tenho a certeza, no meu coração, de que irei vencer cada obstáculo trazido pela doença. Nossa vida é um tripé de saúde física, mental e espiritual, portanto, não descuide de nenhum!”, finaliza Tatiana.
Entre os tratamentos disponíveis estão cirurgia, a quimioterapia, os análogos de somatostatina, terapia com radioisótopos e drogas de alvo molecular.
“Em relação ao tratamento, tudo depende da localização do tumor e se tem metástase – no fígado é mais comum. Cada vez surgem mais estratégias de tratamento”, diz a médica.
Referências
- Vivendo com TNE. Disponível em http://tne.vivendocom.com.br/sobre-os-tnes/aprenda-sobre-os-tneso-que-sao-tnes/. Acessado em 5 de outubro de 2022.
- Internacional Neuroendocrine Cancer Alliance: Diagnosis and Misdiagnosis. Disponível em http://incalliance.org/diagnosis-and-misdiagnosis/. Acessado em 8 de novembro de 2022.
- National Cancer Institute – Gastrointestinal Carcinoid Tumors Treatment (PDQ®)-Health Professional Version, Epidemiology – Disponível em http://www.cancer.gov/types/gi-carcinoid-tumors/hp/gi-carcinoid-treatment-pdq. Acessado em 11 de outubro de 2022.
- Lepage C, Bouvier AM, Phelip JM, Hatem C, Vernet C, Faivre J. Incidence and management of malignant digestive endocrine tumours in a well defined French population. Gut 2004; 53(4): 549-53
Material destinado ao público geral.
Nov/22 | SOM-BR-000984