Classificada como uma das doenças intestinais inflamatórias, reconhecimento dos sintomas é essencial para retomada do bem-estar dos pacientes
Por Beatriz Simonelli
O processo inflamatório crônico do aparelho digestivo é a principal característica da Doença de Crohn. De origem incerta, mas com estimativas de caráter autoimune (quando o organismo combate equivocadamente suas células saudáveis), essa doença rara é responsável por mais de 50% dos casos das Doenças Intestinais Inflamatórias (DII), de acordo com uma pesquisa feita pela Associação Brasileira de Colite Ulcerativa e Doença de Crohn (ABCD).
Ao todo, as DII somam três tipos: Retocolite Ulcerativa, Doença de Crohn e Colite indeterminada. As inflamações causadas pela Doença de Crohn são invasivas e podem provocar dores abdominais, cólicas intestinais e diarreia, levando à perda de peso e anemia. Os médicos a classificam de acordo com a intensidade dos sintomas: leve, moderada ou grave. Adultos de ambos os sexos, de 20 a 40 anos, constituem a faixa mais atingida pelo problema e os fumantes caracterizam uma população de risco.
Os sintomas das DII podem se confundir com os de outras doenças, por isso, conhecer as características particulares e procurar avaliação médica é fundamental. Abaixo, a gastroenterologista e presidente da ABCD, Marta Machado, esclarece as principais dúvidas sobre o tema.
- A Retocolite Ulcerativa e a Doença de Crohn são iguais. MITO
As duas principais enfermidades que compõem o grupo das DII são inflamatórias, crônicas, sem cura e podem ter diversos fatores como origem. Entretanto, são enfermidades distintas. A Doença de Crohn pode acometer desde a boca ao ânus, atingindo todas as camadas do trato digestivo e, por isso, pode evoluir para perfuração e estreitamento no intestino. Já a Retocolite Ulcerativa é restrita ao reto e ao intestino grosso, com o acometimento restrito à mucosa.
- O paciente com alguma DII tem febre e dor como sintoma. VERDADE
A dor abdominal está presente quando a doença está em atividade e o paciente pode ter quadros de febre. Além disso, os principais sinais das doenças são diarreia ou constipação, presença de sangue ou muco nas fezes e distensão abdominal.
- Os pacientes têm perda de peso e queda de cabelo. VERDADE
A pessoa com DII, em qualquer um dos seus três tipos, pode sofrer um emagrecimento excessivo e também queda de cabelo. Isso ocorre por questões secundárias como a desnutrição, a falta de vitaminas ou como efeito colateral de alguma medicação.
- As DII apresentam sinais apenas no trato gastrointestinal. MITO
As enfermidades podem apresentar manifestações além do intestino como uveíte (inflamação no olho), artrite (inflamação das articulações), sacroileíte (inflamação na articulação do sacro, osso localizado na base da coluna vertebral), eritema nodoso (inflamação na pele), piodermite gangrenosa (feridas na pele), hidrosadenite supurativa (doença crônica de pele), hepatites, colangite (inflamação nos canais biliares), tromboses (coágulo no sangue), entre outras.
- As DII possam ser confundidas com outras doenças. VERDADE
Essas enfermidades podem ter inúmeras formas de apresentação com uma gama enorme de manifestações. Dessa forma, é essencial a realização correta e bem detalhada da história clínica do paciente e exame físico completo para o diagnóstico final.
- O diagnóstico envolve diversas análises. VERDADE
As doenças inflamatórias intestinais como a Doença de Chron são diagnosticadas por história clínica completa, exames físicos e laboratoriais, incluindo estudos de imagem endoscópica e radiológica.
- O cuidado com a alimentação é suficiente para o tratamento das enfermidades. MITO
Em casos mais leves, a mudança dos hábitos alimentares pode ser suficiente, entretanto, essa situação é muito rara. Normalmente, é recomendado que o paciente evite os alimentos que piorem os sintomas das doenças. Além disso, em algumas fases, pode ser necessário diminuir o consumo de fibras e, em outras, de lactose. Um acompanhamento com nutricionistas é muito importante.
*Respostas concedidas por Marta Machado, gastroenterologista e presidente da Associação Brasileira de Colite Ulcerativa e Doença de Crohn (ABCD)
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